sábado, 15 de janeiro de 2011

Mudança de endereço

Pessoas queridas,
dentro de algum tempo esse blog, com esse endereço, sairá do ar.
Todas as antigas e novas postagens poderão ser encontradas no

:)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Meus dois olhos numa caixa,
para que você possa ver o que eu vejo.
E olhar para si sem morrer de medo
do mergulho
das penumbras
dos desejos


E doce risco da rima

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Cirrus

Na volta, o silêncio da estrada
O cansaço de estar junto e a necessidade de estar em si, e só
Sempre assim: O momento de nada mais ser dito no retorno de qualquer viagem.
Dentro, alguma coisa quebrou. Também fora
Castelos aéreos na linha do horizonte
There is a light that never goes out
No banco de trás, três sonhos.
No céu, Chagal de nuvem.
Na contramão, rumo ao reino das coisas não ditas
Mas que são.
Rosa dos ventos dos meus afetos, aponta para o tempo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Antes

Tua matéria escura, negada
Meu mergulho sempre raso
mãos se encontram. Acidental.
Um segundo, a esperança suspensa. Água-viva.
Se esvazia, linda. dolorosa.

Nesse jogo de adivinhar você sempre erra o paradeiro da minha vontade.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

La maison de mon rêve

Do antes eu não me lembro. Só sei que eu corria e chovia muito. Sem sentido.
Então eu cai de uma forma impossível numa escadaria de degraus largos e você me abraçou pela costas, de joelhos. Puxou minha cabeça para trás. Seus olhos e os meus, mas eu não os reconhecia. Esticou o corpo para que sua boca alcançasse a minha, colando o pescoço no meu nariz pequeno. Foi aí que eu lembrei de você, que só me toca assim enquanto durmo. Depois me disse alguma coisa que eu não consegui ouvir, pois só prestava atenção na água que pingava do seus cabelos e escorria no meu rosto como pequenas lágrimas. Provavelmente minhas, já que no sonho tudo sou eu.
E você sorria esperando qualquer resposta. Eu? Eu queria guardar tudo, mapear seus traços, buscá-los quando estivesse novamente em vigília.

Te perco de vista. Meu joelho sangra e me dilui na água num suspiro vermelho escuro.


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Apócrifos, das cartas não enviadas: O irmão bastardo de Ismael

Eu não sei exatamente se foi nesse dia que eu passei a ter medo de você ou se, pela primeira vez, entendi a dimensão do que você sentia.Talvez eu apenas não lembre. Tudo que sei é que o caminho de volta para casa estava assustadoramente estranho, como só consegue ser aos domingos. E só em alguns.

Não conseguia entender porquê eu.

Não conseguia entender porque precisava ser assim, tão dolorido, tão cheio de símbolos e metáforas que, de fato, nunca nos levariam a lugar algum. Se você traçava o mapa que te levaria até a minha casa, eu nunca estava lá. Se nos cruzávamos na esquina e você me seguisse até o portão, jamais te deixava entrar. Se, por um acaso, colocaste um grande envelope cor de terra em minha caixa de correio, a chuva o molhou e eu não consegui ler o que você tentou me dizer de tantas outras formas.

A verdade é que só quando outros falaram por você é que eu entendi que o que você queria me dizer não era tão difícil assim de ser compreendido. Não se eu estivesse disposta.


Quinze minutos para a pior hora da semana. Quinze minutos para a tarde do domingo se tingir de tons doloridos e tocarem os sinos da igreja chamando as pessoas para a última missa da semana. Ou a primeira. É o que mais dói no domingo: suas máscaras milenares nunca nos deixam saber se ele é o fim ou mais um início.

Antes fosse fim mas você já me esperava em frente ao portão para ouvir "não" mais uma vez. E ouviu. Encostou-se no muro como se quisesse colar os pulmões nas pedras geladas.


- Vai chover.

- É, eu sei. Por isso tenho que entrar, tá certo? Tenho muita coisa pra estudar e ainda quero assistir esse filme que aluguei.

- Mas não precisa chover para você entrar.

- E não precisa chover para você insistir em entrar comigo.


Aí você se calava, resignado. Como um cão que recebe um não. E falando nisso, te vi semana passada. Vagando por aí como um vira-lata sem rumo. Não sabia mesmo aonde queria chegar. E não me reconheceu.

Foi aí que, finalmente, eu abri a porta e disse: Seja bem vindo de volta.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Apócrifo, das cartas não enviadas: A aprendizagem solitária do não-pedir

Fever 103
S.,


Se decidi te escrever, acredite, é por pensar que isso você entenderia melhor do que ninguém:

Ontem meu corpo dormiu mas minha alma ficou de vigília. Um fluxo incontrolável invadiu os meus sonhos e todos eles me diziam a mesma coisa. Acordei, e desde então a mesma ideia ocupa a minha cabeça e será assim o resto do dia, até que eu volte a dormir e recupere a paz que esqueci no reino de Morpheus.
Que coisa é essa me inquieta? Que coisa é essa que é súplica do corpo e da alma?Que coisa é essa tão inexorável que devora meus adjetivos, meus advérbios, e me faz falar pela boca dos outros, S.? O que é isso?

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita.


Serei só eu? Será capaz de caber tanta coisa num corpo-alma só? É só o meu sono que é
perturbado com tanta vontade, com tanto desejo de não sei ao certo que? É só em mim que corre esse rio de desvario?Essa febre?

Darling, all night
I have been flickering, off, on, off, on.
The sheets grow heavy as a lecher's kiss.

Por vezes tenho vontade que um raio me parta em duas,como sou em verdade, por dentro. E que uma se vá, com sua febre insana, com seu desejo caótico, com sua vontade tumultuada, como a superficie da água quando ferida por uma pedra. E que a outra permaneça, serena, com o coração batendo calmo, com o corpo descansado après les petite mort.

I am too pure for you or anyone.
Your body
Hurts me as the world hurts
God. I am a lantern --- My head a moon
Of Japanese paper, my gold beaten skin
Infinitely delicate and infinitely expensive.


Me diz, então, você, qual o remédio para baixar minha febre? Qual o caminho para encontrar minha paz, esgotar esse pulsar incessante que é estar vivo? Oh, my lord, i've been waiting, like Danae, for your answer.For your gold rain of eternity.

Does not my heat astound you. And my light.
All by myself I am a huge camellia
Glowing and coming and going, flush on flush.

I think I am going up,
I think I may rise ---
The beads of hot metal fly, and I, love, I

Am a pure acetylene
Virgin
Attended by roses,

By kisses, by cherubim,
By whatever these pink things mean.
Not you, nor him.


Silêncio. Silencio.

Image: Danae, by Klimt
Pagan poetry: O que será (à flor da pele), By Chico Buarque. Fever 103º, by Sylvia Plath.

Fever 103

terça-feira, 12 de maio de 2009

Um post grande sobre coisas pequenininhas

Eu acho que certas coisas são mais simples de falar, pra mim. E, por acaso,são as coisas mais complicadas de entender e domar. Inclusive, que mania péssima essa de querer "domar" as coisas. Querer delimitar, amarrar, segurar o que, na verdade, é inevitável que se escorra entre os dedos. Hoje eu vi uma amiga dizendo que se ela fosse uma fazenda não teria cercas. Feliz dela, que pode ver o desejo cavalgando livre por aí. Querer alguma coisa é estar vivo. Querer muito uma coisa é ainda estar vivo.

Mas voltando as coisas que parecem ser mais fáceis de falar. Por exemplo: para mim é fácil e claro falar de "amor". Parece que é um assunto que não se esgota em mim. Acho que escreveria facilmente aqueles livrinhos "Sabrina" e "Julia". O problema, provavelmente, é que eles seriam todos iguais. Acho que muito cinema pode fazer mal a cabeça das pessoas. Não falo nem de "príncipes encantados" e "cavalos brancos". Vai que eles existem? Quem sou eu para dizer o contrário? Só que eu sempre achei que os finais felizes esquecem que existiu um "meio", e que esse pode ter sido muito dolorido. O final feliz não vai apagar o que as pessoas viveram antes dele, as feridas que carregam. Esse é o grande perigo da ideia do final feliz: ele não vai resolver toda sua vida. Ele não vai apagar seus medos e suas dores. Ele não vai saciar todas as suas vontades. Ao mesmo tempo, pode ser uma vantagem ótima: é só pensar que tudo o que foi vivido pode ser usado como experiência a seu favor.

Assim, quando digo que é relativamente fácil falar de "amor", creio que seja por ter aprendido a sonhar e desejar coisas muito concretas e até relativamente simples. Acho que nunca fui de excluir do "pacote" os defeitos do outro. Nunca esperei alguém pleno e cheio de respostas. Para falar a verdade, essa ideia até me desagrada. Nunca esperei alguém sem passado (por mais que esse possa me deixar morrendo de medo, às vezes) ou sem possibilidades futuras de querer partir para outras coisas (o que pode me assustar mil vezes mais). Acho que o tempo foi me ensinando que não podemos sonhar pelos outros, não podemos incluí-los nos nossos sonhos sem perguntar antes se eles querem estar ali. É assustador? Sim. Morro de medo? Sim. Se entregar nem sempre é uma coisa fácil. Mas é preciso enfrentar o fato de que viver as coisas, uma de cada vez, e deixá-las ir é inevitável. O destino das pessoas não é estático. Não é porque ele cruzou com o seu que ele vai ficar ali para todo sempre, amem. É que nem jogo de pinball (ok, a comparação não foi das melhores).

Certa vez um rapaz (que muito quero bem, ele nem tem ideia de quanto) me disse que não conseguia viver o agora sem pensar no "por vir". Em outro momento ele disse que não fazia planos "afetivos", já que não podia prever para onde rumaria a vida das outras pessoas. Eu não sei exatamente como ele resolveu esse problema. Mas eu, eu faço planos afetivos. Pra mim e alguém que eu não sei quem é, ainda. Eu imagino lugares, viagens, livros para dividir. Eu vivo lutando contra essa vontade de sonhar com essas coisas. No fundo, por mais que eu seja pragmática e "pé no chão", eu tenho vontade de casa na árvore e café da manhã para dois. E não acho mais justo me punir por isso. Meu sonho é uma fazenda sem cercas. Se um dia alguém quiser entrar nele, modificá-lo, emprestar suas cores e quiser sugerir o nome da filha que eu secretamente quero ter, porque não? Absurdo seria esperar alguém que se encaixasse direitinho no personagem que eu criei um dia. Acho que isso já passou. Era mais seguro, mas passou.

Hoje eu sonho diferente, e morro de medo de não poder dividir com ninguém o que eu sonhei. Mas estou aprendendo, todo dia, que liberdade pode ser uma prova de amor superior e descobrindo o meu potencial de não desistir de mim nem dos outros. Se apaixonar todo dia por um alguém diferente, mas que é a mesma pessoa e descobrir o quanto sou capaz de lutar para que algo dê certo. É a primeira vez que não desisto. É a primeira vez que tento ver alguém antes de depois de qualquer final feliz, e sorrio.


Pode não ser a resposta para você que está aí me lendo. Mas tem sido pra mim, que vejo um sorriso e um aceno na janela do ônibus, todo dia.


"Porque cada início é só continuação,
e o livro das ocorrências está sempre aberto ao meio."
Wislawa Szymborska








Alexi Murdoch - Song for you

sexta-feira, 8 de maio de 2009

"Apócrifo, das cartas não enviadas: E o Sertão virou mar"


Amor meu,


Sinto muito pela igrejinha e pelo museu. Sinto muito pela sua roseira, pelas roupas que estavam no varal, pelo bolo que não cresceu como você queria. Sinto ainda pelo seu caderno de versos, encharcado. Quem sabe com tudo borrado você não entende o que estava escrito? Por favor, não fique muito tempo molhado. Tenho medo que você adoeça e eu não esteja por perto pra te fazer um chá. Te botar no colo. Assanhar seu cabelo. Fazer o que de fato nunca passou de vontade.


Olha, deixa eu te dizer, você tem sorte de ter alguém que quer cuidar de você. É que encontrar gente que quer outras coisas, boas e ruins, é até fácil. Mas cuidar, cuidar mesmo, não. Carinho demais guardado é perigoso, que nem essa chuva.


Eu tento construir diques para conter a força torrencial do afeto em mim. É difícil, rapaz. É difícil ver tanto amor que tem pra ser dado apodrecendo aqui dentro. Por medo. Por não ver leito por onde possa correr tanta água. Eu não peço muito, entenda. O problema é que geralmente o pouco que eu peço é justamente o que não pode ser dado pelo outro. Eu quero só um bilhete, um doce. Quero só a segurança de não ser um “tanto faz”. E por já ter me doado tanto a quem não merecia, hoje eu seguro meu amor em nuvens pesadas, prontas pra chover. O problema não é chover. O problema é chover tudo num canto só. O problema é chover e não ver evaporar, não ver retornar ao céu tudo que já foi nascente, já foi rio, já desembocou no mar.


Mas não tem céu que agüente, meu bem. Um dia há de chover. E meu amor quando chove faz estrago, arrasta tudo o que vê pela frente. Arranca cerca, derruba muro, faz sangrar açude. Depois se aquieta, contemplando os destroços. Então desculpe se eu alaguei sua cidade, se molhei seus cadarços. Só queria que soubesse: foi inevitável.





imagem: Lara Jade

domingo, 23 de novembro de 2008

Auto-retratos por um terceiros


David-ho


"Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas."


Hilda Hilst

sábado, 22 de novembro de 2008

Poema do silêncio


imagem: David Ho


"Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome. "



José Régio

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Enfim, ela também sabia o que era sentir isso...




"Tudo tem que ser bem de leve para eu não me assustar e não assustar os que amo. Pedem-me pouco, pedem-me quase nada. O terrível é que eu tenho muito para dar e tenho que engolir esse muito e ainda por cima dizer com delicadeza : obrigada por receberem de mim um pouquinho de mim."

C.L.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Apócrifo, das cartas não enviadas: a vontade de São Pedro



Lullaby Boy,

"I shut my eyes and all the world drops dead;
I lift my lids and all is born again.
(I think I made you up inside my head.)"
Sylvia Plath




Estou sentada na varanda, em trajes de banho, esperando a chuva cair. Quero livrar, ao menos por hoje, os meus cabelos do cloro da água encanada. Talvez, da rotina também.

Mas para isso é preciso paciência. Deveras.Acontece que essas pequenas coisas que têm o poder de lavar a alma são breves demais e qualquer distração pode dissipar nuvens,exibindo o gordo e velho sol. Então espero.



Os outros, bem verdade, não ajudam. Meu irmão já me disse para não esperar, que hoje não chove mais. Quem garante? Não, já não acredito em previsões do tempo, em trânsitos astrológicos ou em alarmes de incêndio. Num mundo ao avesso só é possível acreditar na própria vontade, transformando qualquer previsão em absurdo.

Assim, meu bem, se hoje me dissessem que eu encontraria você por alguma das ruas dessa cidade, colocaria o meu melhor vestido e sairia andando até que 'a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus' resolvessem se encontrar. E assim vingariam todos os clichês de todos os poetas de todos os tempos. E Peixes entraria na sétima casa, com fortes pancadas de chuva na área escura do mapa e com algum Nero pos-moderno tocando fogo em toda a cidade. Mas não importaria.

É, essa previsão seria magnifica, apesar de saber que você está a muitos quilômetros daqui.


Agora eu tenho que ir, começou a neblinar.

Ao menos a certeza de que estamos sob o mesmo céu me consola. E quem sabe?




quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Apócrifos, das cartas não enviadas: A moeda ou Das mulheres de meu Pai


D.Q,




"Se o mar tem o coral
A estrela, o caramujo
Um galeão no lodo
Jogada num quintal
Enxuta, a concha guarda o mar
No seu estojo .
Ai, meu amor para sempre
Nunca me conceda descansar.
Pai, o tempo vai virar
Meu pai, deixa me carregar o vento.
Vento.Vento. Vento."




Homem, que é de ti? De ti, que entre os treze optou por abandonar a calma. Quando nasceu, certamente e ainda sob o signo de um Deus antigo (ao menos em testamento), tua mãe te marcou com o sinal dos escolhidos. A ti e a tuas irmãs. Te marcou com a marca dela. Feminina. O teu pai, com todo o cuidado que se exige com um homem assim, te cobriu de cinzas para que não vissem o seu sinal. E você cresceu.
Seguiu teu caminho até encontrar uma fagulha. Ela te pôs fogo, não foi?
Ela queimou por quinze anos e virou brasa apagada. Sobrou pra mim: herdei a marca de tuas mulheres, meu pai. Você, querendo me poupar do destino dos que têm o silêncio como língua-mãe, me cobriu de cinzas e foi-se pelo mundo, semeando ventos e colhendo tempestades.
Eu só queria te dizer que hoje eu vi quando o vento soprou e afastou suas cinzas.
Eu só queria te dizer que eu também, pai, eu também.