sábado, 15 de janeiro de 2011
Mudança de endereço
terça-feira, 21 de setembro de 2010
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Cirrus
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Antes
Meu mergulho sempre raso
Um segundo, a esperança suspensa. Água-viva.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
La maison de mon rêve
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Apócrifos, das cartas não enviadas: O irmão bastardo de Ismael
Não conseguia entender porquê eu.
Aí você se calava, resignado. Como um cão que recebe um não. E falando nisso, te vi semana passada. Vagando por aí como um vira-lata sem rumo. Não sabia mesmo aonde queria chegar. E não me reconheceu.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Apócrifo, das cartas não enviadas: A aprendizagem solitária do não-pedir
Se decidi te escrever, acredite, é por pensar que isso você entenderia melhor do que ninguém:
Que coisa é essa me inquieta? Que coisa é essa que é súplica do corpo e da alma?Que coisa é essa tão inexorável que devora meus adjetivos, meus advérbios, e me faz falar pela boca dos outros, S.? O que é isso?
O que será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita.
perturbado com tanta vontade, com tanto desejo de não sei ao certo que? É só em mim que corre esse rio de desvario?Essa febre?
Darling, all night
I have been flickering, off, on, off, on.
The sheets grow heavy as a lecher's kiss.
Por vezes tenho vontade que um raio me parta em duas,como sou em verdade, por dentro. E que uma se vá, com sua febre insana, com seu desejo caótico, com sua vontade tumultuada, como a superficie da água quando ferida por uma pedra. E que a outra permaneça, serena, com o coração batendo calmo, com o corpo descansado après les petite mort.
I am too pure for you or anyone.
Your body
Hurts me as the world hurts
God. I am a lantern --- My head a moon
Of Japanese paper, my gold beaten skin
Infinitely delicate and infinitely expensive.
Me diz, então, você, qual o remédio para baixar minha febre? Qual o caminho para encontrar minha paz, esgotar esse pulsar incessante que é estar vivo? Oh, my lord, i've been waiting, like Danae, for your answer.For your gold rain of eternity.
Does not my heat astound you. And my light.
All by myself I am a huge camellia
Glowing and coming and going, flush on flush.
I think I am going up,
I think I may rise ---
The beads of hot metal fly, and I, love, I
Am a pure acetylene
Virgin
Attended by roses,
By kisses, by cherubim,
By whatever these pink things mean.
Not you, nor him.
Silêncio. Silencio.
Image: Danae, by Klimt
Pagan poetry: O que será (à flor da pele), By Chico Buarque. Fever 103º, by Sylvia Plath.
Fever 103
terça-feira, 12 de maio de 2009
Um post grande sobre coisas pequenininhas
Eu acho que certas coisas são mais simples de falar, pra mim. E, por acaso,são as coisas mais complicadas de entender e domar. Inclusive, que mania péssima essa de querer "domar" as coisas. Querer delimitar, amarrar, segurar o que, na verdade, é inevitável que se escorra entre os dedos. Hoje eu vi uma amiga dizendo que se ela fosse uma fazenda não teria cercas. Feliz dela, que pode ver o desejo cavalgando livre por aí. Querer alguma coisa é estar vivo. Querer muito uma coisa é ainda estar vivo.
Mas voltando as coisas que parecem ser mais fáceis de falar. Por exemplo: para mim é fácil e claro falar de "amor". Parece que é um assunto que não se esgota em mim. Acho que escreveria facilmente aqueles livrinhos "Sabrina" e "Julia". O problema, provavelmente, é que eles seriam todos iguais. Acho que muito cinema pode fazer mal a cabeça das pessoas. Não falo nem de "príncipes encantados" e "cavalos brancos". Vai que eles existem? Quem sou eu para dizer o contrário? Só que eu sempre achei que os finais felizes esquecem que existiu um "meio", e que esse pode ter sido muito dolorido. O final feliz não vai apagar o que as pessoas viveram antes dele, as feridas que carregam. Esse é o grande perigo da ideia do final feliz: ele não vai resolver toda sua vida. Ele não vai apagar seus medos e suas dores. Ele não vai saciar todas as suas vontades. Ao mesmo tempo, pode ser uma vantagem ótima: é só pensar que tudo o que foi vivido pode ser usado como experiência a seu favor.
Assim, quando digo que é relativamente fácil falar de "amor", creio que seja por ter aprendido a sonhar e desejar coisas muito concretas e até relativamente simples. Acho que nunca fui de excluir do "pacote" os defeitos do outro. Nunca esperei alguém pleno e cheio de respostas. Para falar a verdade, essa ideia até me desagrada. Nunca esperei alguém sem passado (por mais que esse possa me deixar morrendo de medo, às vezes) ou sem possibilidades futuras de querer partir para outras coisas (o que pode me assustar mil vezes mais). Acho que o tempo foi me ensinando que não podemos sonhar pelos outros, não podemos incluí-los nos nossos sonhos sem perguntar antes se eles querem estar ali. É assustador? Sim. Morro de medo? Sim. Se entregar nem sempre é uma coisa fácil. Mas é preciso enfrentar o fato de que viver as coisas, uma de cada vez, e deixá-las ir é inevitável. O destino das pessoas não é estático. Não é porque ele cruzou com o seu que ele vai ficar ali para todo sempre, amem. É que nem jogo de pinball (ok, a comparação não foi das melhores).
Certa vez um rapaz (que muito quero bem, ele nem tem ideia de quanto) me disse que não conseguia viver o agora sem pensar no "por vir". Em outro momento ele disse que não fazia planos "afetivos", já que não podia prever para onde rumaria a vida das outras pessoas. Eu não sei exatamente como ele resolveu esse problema. Mas eu, eu faço planos afetivos. Pra mim e alguém que eu não sei quem é, ainda. Eu imagino lugares, viagens, livros para dividir. Eu vivo lutando contra essa vontade de sonhar com essas coisas. No fundo, por mais que eu seja pragmática e "pé no chão", eu tenho vontade de casa na árvore e café da manhã para dois. E não acho mais justo me punir por isso. Meu sonho é uma fazenda sem cercas. Se um dia alguém quiser entrar nele, modificá-lo, emprestar suas cores e quiser sugerir o nome da filha que eu secretamente quero ter, porque não? Absurdo seria esperar alguém que se encaixasse direitinho no personagem que eu criei um dia. Acho que isso já passou. Era mais seguro, mas passou.
Hoje eu sonho diferente, e morro de medo de não poder dividir com ninguém o que eu sonhei. Mas estou aprendendo, todo dia, que liberdade pode ser uma prova de amor superior e descobrindo o meu potencial de não desistir de mim nem dos outros. Se apaixonar todo dia por um alguém diferente, mas que é a mesma pessoa e descobrir o quanto sou capaz de lutar para que algo dê certo. É a primeira vez que não desisto. É a primeira vez que tento ver alguém antes de depois de qualquer final feliz, e sorrio.
Pode não ser a resposta para você que está aí me lendo. Mas tem sido pra mim, que vejo um sorriso e um aceno na janela do ônibus, todo dia.
"Porque cada início é só continuação,
e o livro das ocorrências está sempre aberto ao meio."
Wislawa Szymborska
♪Alexi Murdoch - Song for you
sexta-feira, 8 de maio de 2009
"Apócrifo, das cartas não enviadas: E o Sertão virou mar"
imagem: Lara Jade
domingo, 23 de novembro de 2008
Auto-retratos por um terceiros
David-ho
"Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas."
Hilda Hilst
sábado, 22 de novembro de 2008
Poema do silêncio
imagem: David Ho
"Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.
Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.
Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!
Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...
O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.
Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!
Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.
Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!
Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.
Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!
Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.
Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...
Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...
Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome. "
José Régio
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Enfim, ela também sabia o que era sentir isso...
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Apócrifo, das cartas não enviadas: a vontade de São Pedro
"I shut my eyes and all the world drops dead;
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Apócrifos, das cartas não enviadas: A moeda ou Das mulheres de meu Pai
"Se o mar tem o coral
A estrela, o caramujo
Um galeão no lodo
Jogada num quintal
Enxuta, a concha guarda o mar
No seu estojo .
Ai, meu amor para sempre
Nunca me conceda descansar.
Pai, o tempo vai virar
Meu pai, deixa me carregar o vento.
Vento.Vento. Vento."
Seguiu teu caminho até encontrar uma fagulha. Ela te pôs fogo, não foi?
Ela queimou por quinze anos e virou brasa apagada. Sobrou pra mim: herdei a marca de tuas mulheres, meu pai. Você, querendo me poupar do destino dos que têm o silêncio como língua-mãe, me cobriu de cinzas e foi-se pelo mundo, semeando ventos e colhendo tempestades.
Eu só queria te dizer que hoje eu vi quando o vento soprou e afastou suas cinzas.