segunda-feira, 6 de março de 2006

Sol e Chuva

...ele girou a manivela da caixinha de música mais uma vez: A leve sensação de que o tempo passa mas o sangue que corre nas veias será sempre o mesmo.

O sol se escondendo atrás das nuvens, o asfalto molhado, os fios elétricos ligando os postes...Um dia comum talvez e ele nunca entendera como podia o tempo ser tão confuso: sol e chuva em um mesmo minuto.A mesma música tantas vezes, a mesma sensação...Resgatava o que sentiu em algum tempo passado daquela forma e não entendia que mecanismo na música o fazia transbordar.
Quando era menor já havia sentido coisa parecida: O seu quarto, seus vinis, seus lápis de cor.. Criava heróis e destruia mosntros. Volta e meia achava chato ser sempre bonzinho e se transformava num grande dragão de asas negras, lançando fogo sobre o castelo de lego que havia montado. O soldado sempre salvava a princesa do vale de gelo e o índio chorava dias a fio com saudade do seu irmão que havia partido para derrotar yorkes que viviam para lá das montanhas de Yashua.
Esse sentimento havia ficado perdido em alguma brecha de seu passado onde ele não podia entrar, mas lembrava de seu cheiro e das suas cores...Lembrava de como aquele sentimento antigo parecia lhe emprestar asas, como aquela sensação que não tinha nome e que era só dele conseguia transportar-lhe para qualquer lugar onde nunca esteve...como aquela sensação agridoce lhe fazia resgatar lembranças de coisas que nunca viveu.

Mas a música não... a música não era como ele! A música poderia ser do tamanho que quisesse, poderia atravessar paredes, mergulhar em oceanos, entrar por suas fendas... E entrou. Agora, dentro dele ela aglomerava moléculas de vida e as fazia dançar ao seu ritmo...E ele sentia o coração bater em uma única nota: estava vivo.
Com o rosto molhado e a cabeça descansada no ombro de outro alguém entendeu porque o sol e a chuva estava alí, juntos em um único minuto: Era assim que se fazia um arco-íris! E descobrindo isso lembrou que assim respondia uma das perguntas daquele menino que fora... Havia crescido, e sabia: Algo novo crescia dentro dele.

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