quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Sobre as conchas da mão




"Toma o amor guardado entre as conchas da minha mão. Dentro delas ouvi as ondas quebrando-se em pedras e o espetáculo de um pequeno musgo nascido à beira de um raio de sol. Dentro delas, ouvi a terra aninhando sementes e plantas entrelaçando a ponta de suas raízes. Finas raízes tentando sustentar o mundo sob as placas de cimento. As placas de cimento, de onde germinam as casas e crescem as pessoas, entrelaçando a ponta de seus braços e o mais fundo de seus corpos pela noite escura. Dentro delas, ouvi o mundo inteiro tentando ser par...
e ouvi a ponta de tuas asas tocando minhas costas nuas, teu instrumento
de cordas e suspiros profundos. "
Texto: Rita Apoena
Imagem: Minha

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Apócrifos, das cartas interminadas:O sino do ventos.

Fortaleza, 2 de Setembro de 2007.
L.,





Quanto tempo faz? Tanto e tão pouco, (E entre nós ainda se estende um antigo silêncio. Muito antes de nós). É como se dedilhássemos no ar ideias ancestrais, que se misturam e se perdem nas voltas do tempo. quais as minhas? Quais as suas?
Ao mesmo tempo que me perco em ti, te estranho como estranho a todos. Te estanho como se em estranhasse: Em atos simples do "desconhecer". (Não reconheço minha própria letra. Mas minhas mãos são irmãs das tuas).





---------------------





Nesses apócrifos colocarei trechos ou cartas inteiras não enviadas. Ou ainda textos não concluídos ou que mereciam a fogueira.


Qualquer Deja Vu é mera vontade do 'ter sido'.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Banho de Sol

Atravessava o jardim e ia beirar o pequeno portão de ferro. Lá vinha o dia chegando por detrás dos telhados. Doralice a ajeitava no balanço do jardim e colocava seu pequeno chapéu na cabeça com poucos fios de cabelo. Banho de sol. Uma víbora branca subindo a parede. A grama ainda encharcada do orvalho da madrugada, quando as fadas dançavam no jardim.
Fadas, sim. Já era tempo de acreditar nas fadas e nos duendes ou quem qualquer coisa que lhe contassem sobre seres mágicos. Baile de flores duravam a noite inteira e não existia outro motivo para que amanhecessem fechadas.
Doralice veio calçar-lhe as meias claras.
-Ana, não fique olhando assim para o sol. Vai fazer mal à sua vista. Sente direito. Vou buscar seu leite.
Esperou Doralice cruzar a porta da cozinha e tirou as meias. Pés no chão. Ana. Ana e as borboletas. As e as folhas secas. Ana e o cheiro de jambo. O chão coberto de rosa. Ana e o ferrolho do portão. Ana e o chapéu que caiu no caminho. Ana e seu primeiro passeio. Primeiro sozinha naquele novo bairro. Ana e os pés no asfalto. Ana e seu banho de sol. Ana e o carro de seu Jaime que não a viu atravessando a rua. Ana e seus 82 anos. Ana e o gosto de ferro na boca. Ana e o rosto no asfalto. Formiguinhas. Ana. Ana e Aninha.
E naquela noite as flores fizeram um grande baile.