quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Copo Vazio?

"É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar

É sempre bom lembrar
Guardar de cor
Que o ar vazio de um rosto sombrio
Está cheio de dor

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor
Que a dor ocupa a metade da verdade
A verdadeira natureza interior
Uma metade cheia, uma metade vazia
Uma metade tristeza, uma metade alegria
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar"

(Gilberto Gil)
***

É nessas horas que tudo me parece relatividade(que tudo me parece dualidade) é que me lembro que o copo vazio pode ser um corpo vazio que nunca é vazio mas cheio de algo que substitui o que se existisse seria vazio da mesma forma.
Uma metade tristeza, uma metade alegria...Então sou mais de um se duas metades formam um inteiro e mais de duas metades tenho.E minhas várias metades cheias de ar mas nunca vazias são tão desiguais quanto a metade de um copo (pois meio copo nunca é meio copo, ou é mais ou é menos...Mas nunca meio!)
É sempre bom lembrar que um ar sombrio de um rosto pode ser mais que dor, pode ser mais que ar, pode nem ser.
Pois pra mim copo vazio é filosofia de buteco, de um bêbado qualquer que se queixa que acabou o vinho e tudo é tão vazio.
Não, meu bem , não sou mais um copo do qual todos bebem, do qual todos provam menos eu. Quero auto-fagia! Quero ser um cristo que pode provar do próprio corpo!

Deu o último gole enquanto as últimas notas da música espalhavam-se vazias. Colocou o copo cheio em cima da mesa, olhou o ar sombrio do rosto dela e bateu a porta atrás de si.


Lara

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