9 km até um café em Monmarte. E se irritava quando as pessoas paravam para ouvi-lo tocar o piano. O que ele queria era música-mobília.
- Não parem de falar! Façam alguma coisa, mexam-se!
Foi mais um dos incompreendidos. Colecionava guarda-chuvas e cachecóis. Pediu Suzanne Valadon em casamento no primeiro dia. Tinha mania de comida branca.Criou sua própria igreja e excomungava todos que discordassem dele. Mas esses pequenos absurdos (para os outros) não incomodavam tanto o resto do mundo como a sua música. Satie era subversivo, irritante! Um pianista que compunha músicas de 51 segundos era realmente uma ofensa. Os críticos argumentavam que seu minimalismo era resultado da incompetência: Fora resistente aos estudos clássicos de piano. Colocava em suas partituras instruções de interpretações do tipo "Pense sobre você mesmo", "Questionando", "Sem Orgulho", "Passo a Passo", além de nomear seus trabalhos com nomes quase ridículos como Chilled Pieces, Drivelling Preludes (for a Dog), Dried up Embryos ... E ele, como é de se esperar, morreu. E onde está Erik Satie? Quem o conhece? Ele que influenciou Debussy, Ravel, Picasso. Ele que combateu o romantismo musical. Ele que usou pela primeira vez o termo surrealismo. Ele que, Por Deus, criou as Gymnopédias e a música ambiental! Hoje ele se resume a doze ternos de veludo cinza. E está aqui dentro, compreendendo como ninguém o que eu quis dizer com "silêncios entre um acorde e outro".