terça-feira, 10 de abril de 2007

Erik Satie (ou o homem dos doze ternos de veludo)


9 km até um café em Monmarte. E se irritava quando as pessoas paravam para ouvi-lo tocar o piano.
O que ele queria era música-mobília.

- Não parem de falar! Façam alguma coisa, mexam-se!

Foi mais um dos incompreendidos. Colecionava guarda-chuvas e cachecóis. Pediu Suzanne Valadon em casamento no primeiro dia. Tinha mania de comida branca.Criou sua própria igreja e excomungava todos que discordassem dele. Mas esses pequenos absurdos (para os outros) não incomodavam tanto o resto do mundo como a sua música.
Satie era subversivo, irritante! Um pianista que compunha músicas de 51 segundos era realmente uma ofensa. Os críticos argumentavam que seu minimalismo era resultado da incompetência: Fora resistente aos estudos clássicos de piano.
Colocava em suas partituras instruções de interpretações do tipo "Pense sobre você mesmo", "Questionando", "Sem Orgulho", "Passo a Passo", além de nomear seus trabalhos com nomes quase ridículos como
Chilled Pieces, Drivelling Preludes (for a Dog), Dried up Embryos ...
E ele, como é de se esperar, morreu. E onde está Erik Satie? Quem o conhece? Ele que influenciou Debussy, Ravel, Picasso. Ele que combateu o romantismo musical. Ele que usou pela primeira vez o termo surrealismo. Ele que, Por Deus, criou as Gymnopédias e a música ambiental!
Hoje ele se resume a doze ternos de veludo cinza. E está aqui dentro, compreendendo como ninguém o que eu quis dizer com "silêncios entre um acorde e outro".

5 comentários:

bruno reis disse...

reportagem fantástica, é?

interessante... quem sabe investir mais nisso, né? uma espécie de documentário literário. porque até o que não existe acontece, não é verdade? e minha história é baseada em absurdos reais mesmo.

e sim, também não gosto do playground. nem levo muito a sério os gatos aéreos, mas acho divertido e estou tentando relembrar isso. finalmente consegui alugar o livro da ana cristina césar. é realmente muito bom. às vezes nem a poesia, mas ela mesma, um monte de poemas de quando tinha 16 anos. é quase uma biografia literária.

bruno reis disse...

ah, e gostei dos períodos curtos, uma contenção maior das palavras, gosto disso. :)

Anônimo disse...

Ow moça pra saber dizer as coisas. Fiquei fã do cara.

bruno reis disse...

''Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.''

acho que você já conhecia, mas tava lendo aqui e não pude deixar de vir colar :)

Thalita Castello Branco Fontenele disse...

Só quem já ouviu Satie teve a chance de alcançar os dedos de deus nessa vida.

Muito bom vê-lo por aqui.