terça-feira, 22 de maio de 2007

Seis e vinte.

Se eu costurasse os pedaços desses dias, se eu conseguisse emendar com o fio da sonolência todos esses retalhos talvez eu conseguisse tecer um belo lençol para me cobrir. É que o sol tem brilhado sempre, e sempre existem coisas novas e coisas antigas. E as pessoas vem e vão e algumas (e isso é segredo) flutuam. Outras caem de ônibus.
Mas hoje eu quero ficar na cama. Quero fingir que eu estou dormindo só para ouvir quietinha o dia acontecendo:
O bule assobiando, os toc-tocs nos degrais da escada, as primeiras vassouradas na calçada...
"Me deixa aqui hoje, me deixa? Eu não quero ir para a escola hoje. Eu não quero colar palitos de picolé e fazer o contorno da minha mão de amarelo. Não, eu não sei amarrar os cadarços ainda. Não ria de mim por isso. Promete que não vai demorar para vir me buscar mais tarde, promete? Às vezes fico só eu e o porteiro e o resto do meu lanche (que eu nunca como todo pq eu sei que você vai se atrasar e eu vou ficar como fome). Por favor, me deixa ficar em casa. Eu tô com Febre! Se não estou eu vou ficar."

Eu tive que aprender a esperar desde bem cedo.

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"A billion people died on the news tonight
But not so many cried at the terrible sight
Well mama said
It's just make believe
You can't believe everything you see
So baby close your eyes to the lullabies
On the news tonight..."

11 comentários:

Marcelo Mesquita disse...

Lindo texto, até q eu keria ir mesmo pro colégio, mas tenho é q ir pro trabalho rsrsrs

Wanderley Neves disse...

Há muito não tenho uma referência sequer a você.
Mas minha memória monstra para futilidades fez com que eu encontrasse o teu blog.
Entrei no do Alan Santiago e vi um tal de blog do Ary e pensei: "Ary não é aquele namorado da Larissa?"
Dito e feito...

frd disse...

ah, e isso tudo é tão belo, tão único e cotidiano, eu diria. e sempre alguém tenta nos convencer que o dia é lá fora, com o sol. mas eu vejo o sol daqui, de olhos fechados, sem esforço algum, sem perigos e - o melhor! - deitado com meu trvesseiro (:

Bom dia pra você, Lara

Anônimo disse...

M. Dias Branco, quem diria, me fez te encontrar aqui. Gostei do que li aqui e do que vi no seu fotolog. Parabéns! Vc tem talento.

ascka disse...

Desde bem cedo a gente descobre que a vida pode ser dura.

Carlos Alberto disse...

E eu que ha tanto tempo não vinha aqui para ler teus textos,gostei muito do poema "Cortinas".

Anônimo disse...

Olha, gente nova na minha jossa \o


(Nome carinhoso que eu dei ao meu blog)


Seja benvinda, como diz Chico Buarque...

A propósito, adorei o texto \o

Not I disse...

Meu mesmo...o texto.

IguanaSabida disse...

Larinha, vc é uma monstra na arte de escrever...rsrr..

joaquimcardoso

Ramon de Alencar disse...

d...
-Todos nós tivemos que aprender a esperar, desde muito cedo mesmo. Neste aprendizado passamos nove meses, e mesmo assim, tantas vezes parece que esquecemos...

Anônimo disse...

seria exaustão, assim como é, em muitos momentos, mas não todos, o mesmo.

você agradeceu, fico grato que minha congratulação ainda que involuntária, te acometa...

e minha mãe grita: são vinte anos, meu filho.