sábado, 12 de fevereiro de 2005

A ópera

- Tem graça...
- Graça? - Brandou ele com fúria; mas aquietou-se logo, e replicou:
- Caro Santiago, eu não tenho graça, eu tenho horror à graça. Isto que digo é a verdade pura e última. Um dia, quando todos os livros forem queimados por inuteis, há de haver alguém, pode ser que um tenor,e talvez italiano, que ensine a verdade aos homens. Tudo é música, meu amigo. No principio era o dó, e o dó fez-se ré e etc. Este cálice (enchia-o novamente), este cálice é um breve estribilho. Não se ouve? Também não se ouve o pau nem a pedra, mas tudo cabe na mesma ópera.

Trecho extraido do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis.

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